terça-feira, 13 de agosto de 2013

A indiferença mora ao lado

Como disse um dos maiores escritores brasileiros, Euclides da Cunha, "O sertanejo é, antes de tudo, um forte." Essa frase não poderia ser mais propícia para começar o texto de hoje. Quando li essa frase, nos tempos de colégio ou de faculdade, a primeira imagem que permeou minha mente foi da seca no nordeste, da pobreza que assola inúmeros brasileiros. Porém, depois desse domingo, me arrisco a dizer, que não só o sertanejo, mas o pobre "é, antes de tudo, um forte". Independente da cor, da idade, do sexo ou do país onde vive, o estado de miséria que paira sobre alguns faz com que eles não vivam, e sim, sobrevivam. 

Escolho falar sobre isso, pois vivenciei algo que me fez pensar, não só nas minhas, mas nas atitudes dos outros também. Afinal, a força de muitos, sertanejos, pobres ou marginalizados, pode demonstrar a nossa própria fraqueza.

Após um ótimo e farto almoço de domingo com a minha família, saímos para a calçada em busca de um táxi para voltarmos para nossas casas. Paramos em uma esquina e conversávamos como se nada acontecesse ao nosso lado, ou como simplesmente fossemos adestrados a não perceber. Próximo a mim estava uma grande lata de lixo, onde os restaurantes jogam os restos das comidas que, segundo eles, não possuem mais utilidade. Em meio ao mau cheiro, vi um homem abaixado, concentrado em diferenciar o que ia levar para casa para jantar e o que realmente teria que deixar para trás. Minha primeira reação foi não olhar, como se, em um passe de mágica, aquilo se tornasse menos impactante. Falo isso com sinceridade, afinal não sou a Madre Teresa de Calcutá nem muito menos quero propor aqui o discurso esquerdista de que poucos têm muito e muitos têm pouco e, por isso, devemos sentir culpa por vivermos bem. Apenas trago um relato. Percebi que a reação que tive é, infelizmente, algo normal. Naquele momento, por segundos, me senti como os cavalos, que crescem adestrados e usam tapas que limitam a visão lateral. 

Não é preciso ser um gênio para saber que existem pessoas que vivem na miséria, na pobreza; que comem coisas do lixo, pedem esmola para viver e passam noites em claro com fome e frio. Acho difícil, em pleno século XXI, alguém dizer que isso é novidade. Entretanto, ver na televisão, ler no jornal e nos livros é extremamente diferente de olhar para o lado e, a menos de 20 metros, ver um homem separar o pão mofado do resto de tomate e frutas que seriam seu jantar. Não senti culpa ao ver aquilo, mas sim uma sensação de incapacidade, misturada com tristeza. Me aproximei devagar como se quisesse mostrar minha presença. Ele então levantou os olhos e vi ali dentro daquele tom castanho, um conformismo. Conformado por ser invisível, por ser esnobado, por ser esquecido. Conformado por sentir frio, fome e sede todo o tempo. Conformado que eu, mais uma menina de classe média, não traria a solução de seus problemas. Olhei durante uns longos segundos para ele e lhe estendi a mão com o pouco de dinheiro que tinha no bolso e um sorriso de canto de boca. Ele olhou para baixo, segurou dentro de si o pouco orgulho que lhe restava e me agradeceu com um aceno de cabeça. Dei um sorriso e me afastei.
 
Sei que não mudei o mundo, nem muito menos garanti algo mais que um pão ou um prato de comida para aquele homem, mas mais valioso que o dinheiro que lhe dei, foi o que ele, sem saber, me mostrou. 
Vivemos em um mundo onde as pessoas são esquecidas. Não falo apenas das crianças que jogam bolinhas nos sinais, dos homens que pedem esmola, dos deficientes que vendem balas ou de outras pessoas que vivem na pobreza, mas também do gari que limpa a calçada, do porteiro do condomínio, da faxineira que limpa os banheiros da sua faculdade... Aproveito o momento para alertar que ninguém pode ser indiferente e invisível. Se você não pode ajudar ou não tem dinheiro e tempo para doar, apenas seja educado, dê um sorriso, um bom dia, e mostre que aquela pessoa merece ser tratada tão bem quanto você, porque só os fortes vivem nesse mundo de egoístas e sobrevivem da melhor maneira possível. Definitivamente, aquele esquecido, excluído e invisível aos outros, esses sim, é, antes de tudo, um forte.




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