quinta-feira, 24 de abril de 2014

"Ter ou não ter namorado"

Nunca fui a favor de fazer listas.Acho monótono e sem contar que me sinto lendo revistas de adolescentes com testes e quiz. 10 maneiras de emagrecer, 10 motivos para ser solteira, 20 questões da crise dos 30.... nada disso me apetece. Mas texto em forma de lista, ai já é outro nível.

Nessa tarde do feriado te vi assim, de rabo de olho, falando com uma animação sem igual sobre os planos que faríamos juntos. Vi em seu olhar uma felicidade que, orgulhosa ou não, sem humildade alguma, posso dizer que eu coloquei ali. E isso me fez um bem sem igual. Lembrei na hora de um texto que li quando tinha mais ou menos uns 16 anos, em uma tarde qualquer de aula de literatura de colégio.

Ignorância ou não fiquei surpresa ao ler um texto tão lindo de um autor que para mim era tão desconhecido. Artur da Távola é o pseudônimo de Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros( 1936 -2008). Ele foi um advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro.

O seu texto com uma sensibilidade enorme mostra de todas as formas o que senti naquele momento em que te vi ali, feliz e realizado. Aquele momento em que me peguei, como um ladrão que chega de repente, sentindo o doce sabor de um sorriso. Ser solteira tem sim suas inúmeras vantagens. Você se sente mais livre, não tem que dar satisfação da onde vai nem com quem vai, não precisa sentir ciúmes, afinal não é apegada a ninguém, entre outras coisas. Mas namorar... isso sim é bom. Deixo para o Artur da Távola explicar como ninguém. (Mas claro deixei em destaque as partes que me vieram a cabeça naquela tarde do feriado).

"Ter ou não ter namorado" - Artur da Távola

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Pele na pele


Me desculpem aqueles que pensam que um relacionamento se resume ao amor. Companheirismo, atenção, respeito, paixão, isso tudo entra na conta quando resolvemos marcar os números da mega-sena. Mas pele, essa sim é essencial e sem ela, as coisas não andam.

Em minha viagem de férias, conversei com uma amiga japonesa que, depois de muita firula, já que na escala da timidez elas alcançam o dez, me perguntou o que era a tal química que era o tema daquela conversa. Olhei pra ela meio sem entender e vi em seus olhos que ela realmente não sabia. Como explicar aquele calafrio que se tem ao tocar o outro, aquela sensação doce que fica na boca depois de um beijo bem dado ou aquele sorriso que chega de mansinho e vai tomando espaço no rosto? Tentei de todas as maneiras explicar e acho, que lá no fundo, ela compreendeu. Mas o que me deixou mais assustada não foi a pergunta e sim o fato dela nunca ter sentido isso. 

Namoro é antes de tudo vontade. Vontade de querer o outro, de ser feliz, de viver cada momento, de rir a toa e de fazer o outro feliz. Vontade de ir ao cinema na sessão das 15h em plena semana e passar a noite acordado rindo do nada. Vontade de beijar e abraçar mesmo quando todos estão olhando e falar besteiras quando ninguém está olhando. Namoro é vontade de amar, de estar e principalmente de tocar. Para aqueles que pensam que prazer só vem de áreas digamos "sexuais", sinto lhes dizer, que você não teve uma boa professora. Prazer vem primeiramente do toque, daquele arrepio que sobe a nuca e faz sua cabeça esquecer dos problemas.

Depois de muita conversa em uma mesa de bar, consegui tranquilizar minha amiga dizendo que tudo na vida vem com o tempo. Quem sabe seus antigos namorados não eram essa Brastemp toda e quem sabe o futuro não lhe reserva um menino diferente. Porque o problemas não é ele ou ela, e sim os dois juntos. Porque carinho, respeito e até amor se constroem com o tempo, mas pele. Essa sim, precisa ser como amor a primeira vista. Simples, direta e muito poderosa.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Resenha: Melancia

Sempre tive uma regra de leitura chamada 2x1. Algumas amigas me perguntam se levo isso a sério. Muitas vezes não, mas sempre que dá sim. A regra é clara, como diriam os comentaristas de futebol, a cada dois livros "cults", "cabeças" e profundos, um livro menininha, Chick Lit, daqueles que não acrescentam muita coisa, mas arrancam gargalhadas de todos.

Depois de ler dois livros bem cults, resolvi me render à escrita de Marian Keyes. E posso dizer que no mínimo é diferente. Sem querer seguir regras, como ela mesmo explica no prefácio, o livro parece uma conversa de bar: fácil, rápido e engraçado. Daqueles com frases longas, suspiros e pensamentos estranhos em meio às diversas histórias.



A história é a seguinte: logo após ter sua primeira e linda filha, Claire descobre que seu marido quer ir embora. Digo logo, porque ela ainda estava na cama do hospital quando recebeu a notícia. Com 29 anos, um bebê e sem marido ela percebe que sua vida não será fácil. Com alguns quilos a mais, descobre que seu marido não só foi embora como tem um caso com a vizinha.

Não tendo nada melhor em vista, Claire volta a morar com sua família meio doida. Duas irmãs, uma delas obcecada pelo oculto, e a outra, uma demolidora de corações; uma mãe viciada em telenovelas e com fobia de cozinha; e um pai à beira de um ataque de nervos. Depois de muitos dias em depressão, choro, bebedeira e autopiedade, Claire decide avaliar os prós e contras de seu ex casamento e percebe que pode viver bem sem o traste do seu ex marido. E quando você acha que tudo se resolveu, o ex James reaparece, para convence-la a assumir a culpa por te-lo jogado nos braços de outra mulher. Claire então resolve recebê-lo, mas como qualquer mulher esperta, sua volta lhe reservará uma bela surpresa!

O livro é leve e serve para ler no ônibus, praia, academia... Ou seja, fácil e divertido. Mas com algumas falhas, como enrolação e descrições demais! Às vezes, torna-se um pouco repetitivo, mas nada que uma leitura rápida e descompromissada não cure!

Vale a leitura!!

Nota final: *** (3 estrelas)

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Vem

Larga essa xícara de cafe frio e sem gosto e vem ficar comigo!
Deita aqui do meu lado e recita aquela musica que só você sabe.
Fala no meu ouvido palavras doces como o açúcar que ta ai no fundo, misturado com esse líquido amargo. 
Deixa do lado de fora, no quintal, na copa ou na mesa de bar, os seus problemas banais e vem pra cá. 
Coloca seu perfume misturado com o meu, o seu corpo aqui pra me acolher. 
Vem segurar meu choro, fazer brotar meu sorriso e me encher de beijos.
Larga esse pão de ontem, o cigarro sem fogo e vem pra cá.
Deixa a vida viver la fora, de hora em hora, de par em par.
Vem morar na minha cama, desfazer toda esse drama que o meu coração cisma em lembrar.
Vem que a hora é agora, nem depois, nem demora.
Vem do meu lado ficar!


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Resenha: A Redescoberta do Mundo

Depois de alguns dias de férias, o EscritAleatória volta ao normal e claro que o #UmaBreveHistória não poderia ficar fora dessa!

E como não tinha nenhum livro novo me aguardando, resolvi passar em uma feira literária que estava no shopping Downtown, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Lá encontrei relíquias por R$10,00. Digo relíquias não por serem famosos, best-sellers ou autores pops, mas por serem livros diferentes e raros em livrarias.


As prateleiras abarrotadas de "livros modinha" escondem grandes histórias e personagens. Naquela feira, por obra do destino, acabei me interessando pela capa de dois exemplares, que só depois de ler a sinopse descobri que tratavam de histórias que se passavam nos EUA e no Oriente Médio.


A dica do dia é o livro "A Redescoberta do Mundo", da indiana Thrity Umrigar. Uma história belíssima que fala de superação, luta política, amor e principalmente, da força de uma amizade.

A história começa com a doença grave de uma das integrantes do grupo. Quatro amigas que cresceram juntas na Índia, participaram ativamente de movimento sociais, e naturalmente, tiveram rumos diferentes na vida. Com a doença de Armaiti, suas três amigas resolvem visitá-la nos EUA. Porém, essa visita trará inúmeras histórias do passado. Para Laleh, esse encontro é o lembrete dos sonhos que não se concretizaram, da culpa não verbalizada. Para Kavita, significa assumir uma paixão proibida. Para Nishta, é a chance de se libertar do marido fundamentalista e opressor. Resumindo, histórias paralelas cheias de emoção que se transformam em uma única. 

A leitura é leve como só. O enredo é bem escrito e você se apega a todas as personagens e suas respectivas famílias. Assim como sugere o título, com a leitura desse livro descobri um novo mundo. De autores diferentes, linguagens e cenários diferentes. Sem esse que americano e igual que vemos por ai. Se você quer refrescar sua cabeça com um bel livro, minha dica é essa!!

Vale muito muito muito a leitura!!

Nota final: ***** (5 estrelas)

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Palavra única

Saudade. Se me perguntassem do que eu mais senti falta quando viajei mês passado, posso dizer que foi, além da minha família, da minha língua! Senti saudade da sonoridade das palavras. Senti saudade de dizer oi, tudo bem? Como foi seu dia? Dia, bem, ser, cachorro, ônibus, vida e saudade.... 

Lendo o livro de Chico Buarque "Budapeste", há alguns meses, lembro de ter sentido um sorriso de canto de boca quando ele escreveu que após muito falar húngaro voltara pro Brasil querendo falar português. Chico narrou como seu personagem deixara um recado na secretaria eletrônica apenas com palavras soltas em português, pois precisava daquilo. Carinho, amor, paz, saudade....

Quando passei vários dias falando apenas inglês, voltei pro meu país com saudade dessa língua que, como nós brasileiros, é complexa, difícil, linda e cheia de problemas; acentos demais, sinônimos demais, vírgulas demais, mas definitivamente, sentimento demais. É só olhar para a singela saudade, palavra que só existe aqui! Não tem I miss you que se compare. Saudade não se explica em palavras! Se sente, se vive e se pensa. Pássaro, estrela, céu, lua, saudade....

Língua dos grandes poetas; de Vinicius de Moraes, Machado de Assis... Dialeto esse que Drummond conseguiu poetizar. Uma bendita pedra que estava ali atrapalhando seu caminho virou poesia. Voltei como os poetas: nostálgicos e saudosos. Tive saudade de dizer palavras tolas, mas que sempre significam algo a mais. Casa, família, sentimento, saudade....