quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

E você ainda me pergunta o porquê do meu nojo ?

Pouco acompanhei dos acontecimentos vergonhosos que o nossa população vivenciou essas últimas semanas. Mas hoje ao me deparar com o texto do jornalista e coordenador do site Catraca Livre, Gilberto Dimenstein, no Brasil Post, tive vontade de escrever o mesmo. Alguns vão pensar, de novo esse mesmo assunto! Outros talvez: "não adianta mais, o que foi feito já passou!". E para esses descrentes do mundo eu lhes digo: não é de gente como você que o país precisa. Precisamos de gente de bem, pelo amor de Deus. Gente honesta, que tem caráter e acima de tudo compaixão. 

Vendo a notícia do  rapaz espancado e acorrentado no Rio, acusado de cometer crimes, apenas pensei: "O que faz de você um justiceiro? Quem te nomeou assim?". Esses meninos devem ter lido muito gibi do Batman quando novos. É a única explicação. Ou melhor, é uma das. O pouco que vi nos telejornais e programas televisivos sobre o menino preso a um poste como um cachorro, me deixou com ânsia de vômito. Um dos tais justiceiros respondeu à pergunta da repórter sobre como seus pais agiriam se soubessem com um simples aceno de cabeça e um "eles acham certo, falaram que bandido tem que ser tratado assim".  Então além dos gibis, vemos a causa dessa sociedade podre. Como pais ensinam a seus filhos que o certo é tratar violência com violência? Onde estão os tais dizeres, que estamparam a camiseta dos hippies, músicas de John Lennon e atualmente deveriam sair da boca da nossa juventude engajada: "make love, not war", "peace and love", ou "gentileza gera gentileza".

E ai os descrentes me dizem: "É porque você nunca passou por isso?", ou então "mas o que fazer se a polícia não resolve". Eu já fui assaltada sim! Já me levaram pertences pessoais e tenho medo de andar na rua à noite, ou em determinados lugares desacompanhadas. Às vezes tenho medo da minha própria sombra, mas daí eu prender um homem espancado, nú a um poste? Por acaso voltamos a época da escravidão onde os homens e mulheres que desrespeitavam "as leis" eram açoitados em praça pública.

Homenagem ao cinegrafista Santiago Andrade, de Celso Mathias
E não satisfeitos em me deixar mal no domingo a noite, os jornais me deram a triste notícia que o cinegrafista da Band Santiago Andrade havia morrido. Um homem integro, colega de profissão, que estava ali no meio do protesto para entregar a você que está no conforto e segurança da sua casa as melhores imagens do acontecimento. Um cinegrafista experiente, que ganhou dois prêmios por mostrar as dificuldades que nós brasileiros passávamos todos os dias nos transportes públicos. Desde 2013, ele registrou para a TV Bandeirantes diversas manifestações na cidade e estava escalado para participar da cobertura jornalística da Copa do Mundo este ano. Um repórter que perdeu a vida, por imprudência, descaso e o pior, por falta de respeito de um único homem. Não chamo os manifestantes de vândalos, black-blocks ou irresponsáveis, porque como toda a população, eles só querem mudanças, melhorias e voz, coisas que nunca possuíram nessa nossa tal "democracia".  Apenas lamento que, como a nossa polícia mesmo nos ensina, os protestos e manifestações precisam de violência, rojões, bombas de gás e balas de borracha. De tanto ódio reprimido, alguém ia acabar sofrendo as consequências.  

Sem um pingo de compaixão com o próximo, a nossa sociedade vai crescendo, se expandido e infelizmente, apodrecendo os poucos otimistas, solidários e íntegros que restam....

Infelizmente, não consigo terminar esse texto com um pensamento muito otimista, mas deixo que John Lennon, aquele mesmo que falou "make love, not war", diga as palavras lindas de uma das músicas mais profundas que já ouvi. Que aqueles como eu, que mesmo com esse nojo dos fatos ocorridos, possam acordar no dia seguinte com o mesmo coração e mente do dia anterior. Que nós possamos imaginar um mundo  em que todas as pessoas vivam em paz, com elas mesmas e com os outros.


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