quarta-feira, 13 de novembro de 2013

E o vento levou...

Esperava o dia amanhecer para sentir sua presença. Durante muitos anos, fiquei de longe apenas observando o seu andar e passeando por seus lindos vestidos. Quando finalmente ela me deixou entrar, pude sentir sua pele lisa, delicada e quente. Não tanto como eu podia ser para ela. Não quero me gabar, mas ela sempre dizia isso, que eu era quente até demais. E que eu podia tentar maneirar um pouco. "Um friozinho às vezes faz bem", me dizia ela.

Alguns dias ela parecia gostar de mim. Me dava atenção, ria quando sentia que eu estava por perto e quando eu finalmente a tocava, ela se arrepiava com a minha presença. Em outros, ela parecia mais séria, como se suas preocupações fossem mais importantes. Como se eu fosse, simplesmente... invisível. Sim, essa é a palavra: invisível. Mesmo gostando muito daquela menina, sabia que algo dentro dela era solitário. Quando eu estava muito agitado, ela fechava os olhos como se a minha pressa não interferisse o seu andar. Tentava chamar a atenção e mostrar que outros na rua me notavam, mas ela nada.

Como já diziam os poetas e escritores, quando nós amamos, devemos querer o outro feliz, mesmo que isso cause em nós uma certa tristeza. E eu, há muito tempo, já sentia ela distante, como se escorregasse pouco a pouco.

Passei por longas praças, parei perto da praia e me refresquei com a maresia. E a vi, lá ao longe, com um de seus vestidos sentada em um banco. Sozinha como sempre. Não queria isso! Resolvi que iria mudar aquela situação e que, assim como eu sempre fui, deixaria ela livre. Fui até ela o mais rápido que pude, mas parei. Ela colocou a mão nos olhos e ao tirar eu não estava mais ali. Tinha deixado o chão coberto de rosas e ela entendeu, com um pequeno sorriso, que poderia viver sua vida, mas que eu sempre estaria ali, para passear por seu vestido e sentir o calor de sua pele.



"Os ventos que às vezes tiram
algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que
aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar
pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi
dado. Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai
para sempre..."  - Bob Marley

Nenhum comentário:

Postar um comentário