quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Liberdade sobre rodas

O som tocava ao fundo, baixo e insignificante, como se quisesse apenas tampar os ruídos que vinham do mundo externo. Eu podia sentir o toque de seus dedos sobre mim. Eram quentes, dóceis e calmos. O sorriso estampava o seu rosto como se naquele momento, mesmo em meio ao caos, ela estivesse feliz de estar em minha companhia. As gotas da chuva desciam levemente pelo vidro e, ao se unirem ao calor que ela exalava, embaçavam a visão. Ela estava feliz como se, naquele momento, a tão esperada liberdade tivesse finalmente chegado. Ela se sentia diferente e eu podia notar que era verdade.

Soltou um grito de alegria ao ouvir que a rádio tocava o seu cantor preferido. Deslizou os dedos por mim até alcançar o pequeno aparelho e aumentar o volume. Naquele instante, o barulho do motor e as gotas caindo se mesclavam com o som da sua voz, que cantava, mesmo que desafinada, o refrão de uma antiga e clássica música.

Aquela menina que, há três anos atrás, chegava até aqui e apenas ficava quieta e pensativa, hoje parecia ter o controle sobre mim. Ela fazia o que queria sobre todo o meu ser. E eu deixava, como um bobo apaixonado por ver como ela amadureceu.

Era perceptível  pelo seu olhar que ela estava feliz por ter conseguido a tão sonhada liberdade de escolher os seus caminhos, seus destinos e seus horários. E eu ficava feliz de acompanhá-la em todos esses grandes passos, ou quem sabe, aceleradas.


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